Cidade do Pará é berço do maior polo de industrialização mineral do País
Renée Pereira, de O Estado de S.Paulo
Localizada a uma hora da capital Belém, na Baía do
Guajará, Barcarena tem 99 mil habitantes, 12.463 veículos, 942 empresas e
um único prédio residencial, em construção. Menos de 30% dos domicílios
são abastecidos por rede de água e, em 88% deles, o esgoto não é
tratado. O principal meio de locomoção ainda é a bicicleta - ou a balsa,
para longas distâncias. No quesito investimentos, no entanto, Barcarena
tem números de cidade grande.
No primeiro semestre deste ano, a cidade paraense desbancou capitais
do Sudeste e se tornou o principal destino do investimento estrangeiro
no Brasil. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas
Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o município recebeu
US$ 5,69 bilhões no período, ou 13% de todo capital externo que entrou
no País. A explicação está no polo industrial da cidade, cuja principal
vocação é a industrialização da alumina e transformação do produto em
alumínio primário.
Criado na década de 80, com a construção da Albrás (na época da Vale
do Rio Doce), o local tem sete companhias de grande porte e uma série de
prestadores de serviço, como empresas de montagens e de manutenção.
Juntas, são responsáveis por 6 mil empregos diretos e outros 18 mil
indiretos, destaca o presidente da Associação de Empresas de Mineração e
Metalurgia de Barcarena (Assemb), Marco Antônio Pinto.
Ele conta que o polo continua atraindo grandes investimentos. Em
2007, a Votorantim decidiu se instalar no local. Nos próximos dois
meses, a Mineradora Buritirama deve inaugurar uma nova unidade de
beneficiamento de manganês. Mas o empreendimento de maior envergadura é a
Companhia de Alumina do Pará (CAP), um projeto que até bem pouco tempo
pertencia a Vale e que foi transferido para a multinacional norueguesa
Norsk Hydro.
As obras para a primeira fase do empreendimento, de R$ 5 bilhões, já
foram iniciadas e devem ficar prontas em julho de 2015. Serão duas
linhas de produção com capacidade para 1,86 milhão de toneladas de
alumina por ano, afirma o gerente de construção da CAP, Paulo Sérgio de
Almeida. Se houver demanda, o projeto será ampliado para oito linhas.
No pico da obra, o empreendimento vai criar 9 mil empregos diretos e
indiretos. Almeida garante que a prioridade será dada aos moradores de
Barcarena, mesmo que a empresa tenha de qualificar a mão de obra. Mas,
segundo o executivo, há pessoas ociosas na cidade que podem ser
aproveitadas na construção. Muitas delas desembarcaram na região para
levantar outras expansões de empresas e acabaram ficando por lá.
O atrativo do polo é a verticalização. A Alunorte, da Norsk Hydro,
transforma a bauxita em alumina; a Albrás, do mesmo grupo, usa a alumina
para fazer alumínio; e a Alubar, de capital argentino, usa a
matéria-prima para produzir cabos de energia elétrica. Além disso, as
empresas contam com um terminal portuário. Trata-se do Porto de Vila do
Conde, que está sendo ampliado para atender à demanda do Estado. Hoje,
as instalações respondem por 70% das cargas do Pará exportadas.
Há planos para a construção de um novo terminal de múltiplo uso, de
R$ 800 milhões; um terminal de carvão mineral, de R$ 400 milhões; e um
terminal de placas de bobinas de aço, de R$ 175 milhões. Enquanto esses
planos não saem do papel, os projetos de ampliação da Santos Brasil
estão em ritmo acelerado. Os investimentos vão ampliar em 30 mil metros
quadrados (para 130 mil m²) a área do Tecon Vila do Conde e elevar a
capacidade para movimentação de contêiner e carga de projetos (grandes
máquinas). A companhia tem hoje 170 pessoas empregadas e pode aumentar
em 30% o quadro de funcionários, afirma o diretor executivo do Tecon,
André Quirino.
Parte esquecida. Por causa do polo, Barcarena se transformou na
terceira maior arrecadação do Estado. Mas, por enquanto, a gestão
pública não tem feito muito pela população local, que sofre com a falta
de infraestrutura. O saneamento básico é quase inexistente na cidade. Na
falta de rede de esgoto, boa parte da população se vira com fossas
rudimentares nas residências. A minoria tem fossa séptica.
Outra peculiaridade do município é a grande quantidade de terra de
propriedade da União. "Aqui quase tudo era da Codebar (Companhia de
Desenvolvimento de Barcarena), que foi dissolvida pelo governo federal",
conta a empresária Graciete Fernandes, dona da casa de construção
Manancial. Segundo ela, qualquer empresa que queira se instalar na
cidade, fora do polo industrial, tem dificuldade para conseguir área.
"Ninguém consegue comprar. Quem tem alguma área regularizada cobra
caro." Por outro lado, reclama Graciete, não há controle das áreas, que
acabam sendo invadidas. Nos últimos cinco anos, foram 44 invasões. Muita
gente chega na região em busca de emprego e nem sempre consegue.
Frustrados, acabam improvisando moradias de madeira, que com o tempo se
tornam residência fixa.
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,barcarena-tem-us-5-bi-em-investimentos-mas-nao-tem-esgoto,o,barcarena-tem-us-5-bi-em-investimentos-mas-nao-tem-esgoto,803574,0.htm